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Gestão
Carla Béck
Infinita EPH

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Entrevista concedida pela CEO da Infinita EPH, Carla Béck, ao PME NEWS, edição de Setembro de 2021 – Tema: “Gestão Horizontal: autonomia para mais resultados”.

PME NEWS – Qual o conceito da gestão horizontal e as diferenças entre a gestão vertical?

Carla Béck – A gestão horizontal é uma abordagem baseada em uma estrutura mais informal e flexível de organização. Tem como princípio básico a criação de uma estrutura organizacional que modifica as relações de poder, distribui poder entre os membros da organização, enquanto no modelo de gestão vertical ocorre justamente o oposto, onde a hierarquia que é valorizada.

A horizontalidade é uma forma mais participativa de gestão, onde todos participam das decisões e são responsáveis por elas. Todos os profissionais são incentivados a se posicionar e expressar suas opiniões. Com isso, ganham mais responsabilidade, engajamento e autonomia sobre o seu trabalho.

Esse modelo de gestão baseia-se na ideia de que os trabalhadores podem aumentar a sua produtividade e engajamento quando são envolvidos nos processos de decisão.

O líder nesse modelo tem um papel diferente do que estamos habituados a ver no modelo tradicional de gestão. Em vez de ele tomar para si todas as responsabilidades das decisões, ele ocupa a função de organizar as ideias e informações, ajudando a equipe a dar forma às decisões tomadas em conjunto.

No modelo tradicional de gestão, as empresas possuem mais níveis hierárquicos. Os colaboradores respondem a um líder que é detentor da tomada de decisões e responsável por elas.

As instruções são passadas top-down nessa estrutura, o que dificulta as contribuições dos colaboradores.

Quando o conceito top down é aplicado na gestão, a hierarquia é valorizada, ou seja, os níveis maiores são mais importantes que os menores, sendo assim, a decisão cabe aos níveis mais altos da hierarquia. Estratégias, informações, instruções são passadas de cima para baixo dentro dessa estrutura.

Normalmente, as empresas que adotam o modelo horizontal tendem a apresentar um clima organizacional mais descontraído e menos formal, o que não significa menos eficiência.

PME NEWS – Como este método funciona na prática? As empresas podem adotar diferentes níveis de horizontalidade?

Carla Béck – A implementação da gestão horizontalizada representa uma quebra no modelo tradicional de estrutura organizacional da empresa, o que pode gerar alguns desconfortos em colaboradores mais antigos. Para que isso seja evitado, é importante que o processo de implementação seja bastante dialogado. Ele precisa da participação de todos.

Designar proprietários dos processos – todos os colaboradores passam a ser proprietários dos seus processos e atividades, sendo assim responsáveis pela gestão dos mesmos, de forma a aprimorá-los e visando a atingir novo desenho organizacional.

Treinar pessoal em funções específicas – o objetivo é o de treinar pessoas promovendo o trabalho em times. O treinamento é o primeiro passo para um processo de sucessão dessas mesmas pessoas que possuem alto poder decisório.

PME NEWS – Quais as vantagens e desvantagens deste modelo?

Carla Béck – Como vantagens desse modelo temos o aumento da motivação e engajamento dos colaboradores, pois eles estão diretamente ligados às decisões da empresa. Reduzimos interferências na comunicação, pois agora ela acontece de forma direta e clara. Redução de custo para a organização com a diminuição dos níveis hierárquicos.

Através desse modelo, a comunicação e a interação dos colaboradores ficam mais fácil e clara. Quando bem estruturada, ela incentiva o intraempreendedorismo, ou seja, gera um sentimento de dono que faz com que os colaboradores lutem por um único objetivo: o crescimento da empresa.

Como desvantagens, podemos destacar menor ação da liderança que pode tornar os processos mais difíceis de serem geridos, especialmente quando a organização cresce. Além disso, quando a organização não é bem estruturada, os colaboradores podem sentir-se perdidos a respeito dos seus papéis e de suas atribuições. Com a falta de delineamento de funções, a liderança pode sentir-se frustrada pela falta de autoridade.

PME NEWS – Este modelo de gestão pode ser adotado por qualquer organização?

Carla Béck – A decisão sobre o tipo de Estrutura Organizacional a ser adotado pela empresa depende do tipo e tamanho do negócio. Não existe fórmula mágica e o que funciona para um, pode não ser um caso de sucesso para outro.

O importante é pensar sempre na cultura organizacional e no planejamento estratégico, pois um precisa atender ao outro. Com base nisso, é possível analisar melhor não apenas a estrutura, mas quais valores são necessários para que seus colaboradores se encaixem no modelo adotado.

PME NEWS – Cite algumas das empresas que adotaram esta estratégia e qual o resultado que elas têm obtido?

Carla Béck

Vagas.com – É uma empresa de tecnologia radicalmente horizontal, ou seja, sem chefes, onde mais de 140 pessoas trabalham diariamente por um propósito.

Uber – Considerada uma startup unicórnio, o Uber inovou o mercado de transporte urbano nos últimos anos e, atualmente, está presente em mais de 700 cidades do mundo.

IFood – Fundada em 2011, o IFood é considerado a maior foodtech da América Latina, com atuação em países como Brasil, México, Colômbia e Argentina. O modelo de negócios é bem semelhante ao do Uber. Em termos de gestão, a empresa procura oferecer condições diferenciadas aos seus colaboradores, aos moldes da gestão horizontal.

As pequenas e médias empresas também podem optar por uma gestão descentralizadora e podem, ainda, contribuir para o crescimento delas. O que observo é que, em alguns casos, há o medo de que o colaborador tenha acesso às informações e que, com experiência, tenha crescimento profissional e busque outras oportunidades. Ter uma gestão ágil nas empresas de pequeno porte é diferente de uma gestão horizontal.

PME NEWS – Como desburocratizar os processos tradicionais de gestão e estimular a autonomia dos colaboradores?

Carla Béck – O primeiro passo para que uma estratégia seja bem-sucedida é, sempre, entender por que aquilo é importante. Afinal, se você vai investir o seu tempo em alguma coisa, precisa saber exatamente qual retorno você vai obter.

Então, você sabe por que é importante eliminar a burocracia?

A resposta é simples: ela não agrega valor. Na esmagadora maioria dos casos, a burocracia não tem uma função essencial para os processos. De fato, ela apenas atrasa o avanço do trabalho. Portanto, ao fazer uma desburocratização, é possível imediatamente aumentar a produtividade da equipe. Uma das principais causas da burocracia é a centralização excessiva.

Outro bom exemplo é a centralização de um determinado processo nas mãos de um único colaborador, que é o único que sabe executá-lo. Assim, todas as vezes que este colaborador está ausente ou ocupado com outra atividade, o processo fica parado, pois ninguém mais consegue dar andamento.

Porém, é preciso ter cuidado para não exagerar na descentralização, transformando o fluxo de trabalho em uma “terra de ninguém”. É importante manter figuras de referência para cada processo. Eles serão responsáveis por assegurar que os resultados sejam atingidos.

Se você estiver achando que parece mais difícil fazer a desburocratização de processos do que conviver com a burocracia, não se espante. Steve Jobs, cofundador da gigante dos eletrônicos Apple, era conhecido por sua busca constante pela simplicidade; e ele dizia que “o simples pode ser mais difícil de fazer do que o complexo”.

Por outro lado, como já vimos lá no começo, existem boas razões para buscar processos de melhoria contínua. Produtividade, foco nos resultados, potencial de escalabilidade. Com certeza, vale a pena investir nos passos que você aprendeu aqui.

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